quinta-feira, 31 de março de 2016

saraculejo e saramanjá

Oscar Wilde chamou a sexualidade proibida de “as horas violetas no tempo cinzento”


um saraculejo, um saramanjá
uma saia curta pra gente espiar
um bumbum cicuta, uma perna lá
onde eu tava mesmo? já não sei voltar
presse assunto presto, presse assobiar
são tantos os pássaros
que quero soltar...

terça-feira, 29 de março de 2016

fragmentos destópicos de um conchavo militar-alienígena

Antes dos aliens chegarem, as pessoas brigavam, podiam discordar. Agora, cada região, cada povo, simplesmente obedece. E na cabeça, lá no alto, não sabemos mais se o que está é alien ou humano. É algo que surgiu da miscigenação. E comanda, e anda, e rula, como uma régua. Mas eles são todos muito estranhos, nós não temos idéia do que eles fazem em seus tempos a sóis. São metidos a vicários e falam sempre esmiolice. Mas erradicaram a guerra. Com armas a laser. E agora vivemos em paz. Mas que paz é essa? Quer dizer, quem tem as armas são eles. Ninguém mais precisa brigar, mas são eles que estão armados. E as pessoas somem. Fazer reunião na sala de casa dá cadeia. As aulas, nas universidade, são vigiadas, porque alguns professores, como sociólogos, historiadores e qualquer pensador que se preze, podem vir a flertar ideologicamente com um DESEJO PELA LIBERDADE que fervilhará nos caudos mais profundos de qualquer um que ouvir seu brado retumbante. E por isso saberem, vigiam. E sabem dos pernicivos e pornorosos que podem vir a falar qualquer merda e gerar um debate que simplesmente não é pra acontecer. É claro que as coisas estão indo bem. De que outro jeito seria? É claro que os militares e os aliens estão fazendo o melhor pelo nosso pais e pelo mundo, eu diria, propiciando direitos sem os quais nós não poderíamos viver. A família e o culto. A família de pai e mãe, trabalhadores que dedicam seu tempo a jornadas semanais honradas e vivem uma vida de uns aos outros e amor justo. Isso é bom. 

Como não seria? Mas quais seriam os cultos permitidos? Catolicismo, presbiterianismo, pentecostalismo, batistas, umbandistas, não, calma... umbandistas? Calma... Tem que ver, essa galera que quer varar noite orando e fazendo barulho... quem são esses? Esses ai são estranhos. Vivemos o dia. O sol é pra todos. Essa é uma bandeira do partido. A noite é perniciosa. E o único modo de não sê-lo é em silêncio. Que se faça o bendito silêncio para todos. E durante o dia cada um em suas posições, operando, obrando, a serviço da sociedade. Só assim vamos erradicar a pobreza. A verdade é que eu não vejo um pobre há um bocado de tempo. Não sei o que está acontecendo. Alguns falam em remoções. Eu não sei. Os corredores pelos quais ando, os bairros pelos quais transito, não me dão acesso a esses movimentos. Moro num conjunto habitacional. Moro perto do trabalho na firma. Algo está errado, eu posso sentir. Mas simplesmente não sei quando demos o passo em falso.

sábado, 26 de março de 2016

Sssobiando

“Eu gosto de textos simples. Pra que tanta aprofundação?
Escrevo querendo risada, doce rajada de excitação...

Mas que a língua se faz de metida, tem ponta fendida, que excreta e faz absorção.
Conta história de vida impelida entre dois caminhos em bifurcação
por um lado rebola em troar que alarda,
por outro, conflui em soar que ajunta...
E nisso, o radical se adunca,
perde o vigor da tônica-ação,
elabora o consentimento...

O velho guerrilheiro, entretanto, nos pede guarita. Usa óculos e vem de bengala na mão. Quando pousa os olhos, para o giro, é só visão. Quando bate o pé, no ritmo, o som tá bão...
~ quem lembra os radicais que apontam é o velho guerreiro, que sinaliza razão, murmura emoção, e guia com a chama da intuição ~
Mas pra que ao alto eu não seque, me leva por bom solo
E pra que abaixo eu revolva, me torna o passo fecundo
E que eu seja todo um mundo em direção...
Ao alto da montanha e além
eu, o velho e quem vier...

Pra mais do que planícies
Largos horizontes
De abraços que cruzam abismos
em amizades que sobem o monte

E lá no alto...
Através de mim andraja o velho hermeneuta
Dispersando da capa sementes infindas
Humilde maestro do verso esquecido

Sussurra no vento a palavra da vida
Silêncio fecundo





quinta-feira, 24 de março de 2016

Sacramento

"O que se inicia como uma viagem de vingança torna-se uma obra de redenção".
Via sacra. Leonardo de Cáprio, O Regresso. O Regato

Digno do Tormento

"Temo somente uma coisa: não ser digno do meu tormento". Dostoievsky

quarta-feira, 23 de março de 2016

Nuvens de fumaça


"Vivemos em tempos sombrios... [sensíveis/angustiados]
Questionar-se quanto a que caminho seguir é um impropério...
Seguir adiante é lei. Mas pra onde vai?
Qual a próxima máquina esterilizadora, ceifadora, formatadora,
pra servir às expectativas - que peça querem de mim?
Que função? Pra que numa bandeja eu possa servir minhas horas...
e ganhar trocados de minutos e segundos,
de abstração...Quando esqueço dos sonhos
de que fui levado,
e me levei, a abrir mão..."


sexta-feira, 18 de março de 2016

ribombar



Vamos brincar de ‘entra e sai’?
-Hum... como é?
-Eu falo 'entra'...
-E eu falo 'sai'?
-Não, vc fala 'entra' também...
-Hum...
-Então eu falo 'sai'...
-E eu falo 'sai' também...?
-É... mais ou menos isso... até que eu peça pra sair e só sair durante um pouco.
-Como assim?
-É que o jogo vai ficando tenso... Mas podemos continuar se você puxar com calma... 
-Hum...õ.o?
-É... ai eu acompanho, e entra e sai... só que cada vez ficando mais difícil... Mais arriscado.
-Qual o risco?
-Ah! de eu não conseguir acompanhar... Pode ser que quem não consiga seja você... Mas as mulheres geralmente são boas nesse jogo...
- Hum... Então eu tenho mais chances de ganhar?
- Esse é um jogo de construção coletiva. Pode ser que você até tenha mais pique, mas só dá pra fazer o jogo divertido se os dois forem juntos em contraposição...
-E é um jogo corporal?
-Bastante... Esse jogo produz vigor físico e até relaxamento... porque envolve uma aceitação e entrega... Exige que nos viremos com nossos corpos e, empenhados nisso, acabamos acolhendo cada partezinha... e nisso o corpo ganha uma concretude experiencial, de ter sido vivivo intensamente...
-Esse jogo parece bem interessante... deve ser mágico.
-E não é!?

quarta-feira, 16 de março de 2016

Desejo de Infinitas Estrelas



Eu prometo gostar de você sem pedir nada
E que seja estada minha presença em seu coração
E sem dizer não, vou sumir de vez quando não for hora marcada
Mas talvez eu volte, se for o caso, quando desejada...
Não vou lhe atravancar os caminhos
Quero apenas fazer ninho em árvore onde possamos nos amar
Quando ao passar pelos caminhos, resolver(mos) nos encontrar
E assim sendo vou por hora, sendo em hora benfazeja
A bengala, a gazela e a gazeta que só nós dois podemos ler
Um no outro e eu com tudo, sendo sujismundo no sagrado
Solo encantado por desejos de infinitas estrelas

George Ivanovich Gurdjieff


  1. Fixe a atenção em si mesmo, seja consciente em cada instante do que pensa, sente, deseja e faz.
  2. Termine sempre o que começar.
  3. Faça o que estiver fazendo da melhor maneira possível.
  4. Não se prenda a nada que com o tempo venha a te destruir.
  5. Desenvolva sua generosidade sem testemunhas.
  6. Trate cada pessoa como um parente próximo.
  7. Arrume o que desarrumou.
  8. Aprenda a receber, agradeça cada dom.
  9. Pare de se autodefinir.
  10. Não minta, nem roube, pois estarás mentindo e roubando a si mesmo.
  11. Ajuda seu próximo sem deixá-lo dependente.
  12. Não deseje que te imitem.
  13. Faça planos de trabalho e cumpra-os.
  14. Não ocupe muito espaço.
  15. Não faças ruídos nem gestos desnecessários.
  16. Se não têm fé, finja ter.
  17. Não se deixe impressionar por personalidades fortes.
  18. Não te apropries de nada nem de ninguém.
  19. Divida de maneira justa.
  20. Não seduza.
  21. Coma e durma estritamente o necessário.
  22. Não fale de seus problemas pessoais.
  23. Não emita juízos nem críticas quando desconhece a maior parte dos fatos.
  24. Não estabeleça amizades inúteis.
  25. Não siga modas.
  26. Não se venda.
  27. Respeite os contratos que firmaste.
  28. Seja pontual.
  29. Não inveje os bens ou o sucesso do próximo.
  30. Fale só o necessário.
  31. Não pense nos benefícios que virão da tua obra.
  32. Nunca faça ameaças.
  33. Realize suas promessas.
  34. Coloque-se no lugar do outro em uma discussão.
  35. Admita que alguém te supera.
  36. Não elimine, mas transforme.
  37. Vença seus medos, cada um deles é um desejo camuflado.
  38. Ajude o outro a ajudar-se a si mesmo.
  39. Vença suas antipatias e aproxime-se das pessoas que você deseja rejeitar.
  40. Não reaja ao que digam de bom ou mau sobre você.
  41. Transforme seu orgulho em dignidade.
  42. Transforme sua cólera em criatividade.
  43. Transforme sua avareza em respeito pela beleza.
  44. Transforme sua inveja em admiração pelos valores do outro.
  45. Transforme seu ódio em caridade.
  46. Não se vanglorie nem se insulte.
  47. Trate o que não te pertence como se te pertencesse.
  48. Não se queixe.
  49. Desenvolva a sua imaginação.
  50. Não dê ordens só pelo prazer de ser obedecido.
  51. Pague pelos serviços que te prestam.
  52. Não faça propaganda de suas obras ou ideias.
  53. Não tente despertar, nos outros em relação a você, emoções como piedade, admiração, simpatia, cumplicidade.
  54. Não tente chamar a atenção pela sua aparência.
  55. Nunca contradiga, apenas cale-se.
  56. Não contraia dívidas. Compre e pague em seguida.
  57. Se ofender alguém, peça desculpas.
  58. Se ofender alguém publicamente, peça perdão publicamente também.
  59. Se perceber que falou algo errado, não insista no erro por orgulho e desista imediatamente dos seus propósitos.
  60. Não defenda suas ideias antigas só pelo fato de ter sido você quem as enunciou…
  61. Não conserve objetos inúteis.
  62. Não se enfeite com as ideias alheias.
  63. Não tire fotos com personagens famosos.
  64. Não preste contas a ninguém, seja o seu próprio juiz.
  65. Nunca se defina pelo o que possui.
  66. Nunca fale de você sem conceder-se a possibilidade de mudança.
  67. Aceita que nada é teu.
  68. Quando pedirem a sua opinião sobre alguém, fale somente de suas qualidades.
  69. Quando você ficar doente, em lugar de odiar esse mal, considere-o como seu mestre.
  70. Não olhe dissimuladamente, olhe fixamente.
  71. Não esqueça seus mortos, mas dê a eles um lugar limitado que lhes impeça de invadir a sua vida.
  72. Em sua casa, reserve sempre um espaço ao sagrado.
  73. Quando você realizar um serviço, não ressalte seus esforços.
  74. Se decidir trabalhar para alguém, trate de fazer com prazer.
  75. Se você tem dúvida entre fazer ou não fazer, arrisque-se e faça.
  76. Não queira ser tudo para teu cônjuge; admita que busque em outros o que você não pode dar.
  77. Quando alguém tenha seu público, não tente contradizê-lo e roubar-lhe a audiência.
  78. Viva dos seus próprios ganhos.
  79. Não se vanglorie por aventuras amorosas.
  80. Não exalte as suas fraquezas.
  81. Nunca visite alguém só para preencher o seu tempo.
  82. Obtenha para repartir.
  83. Se você está meditando e um diabo se aproxima, coloque-o para meditar também.

domingo, 6 de março de 2016

SOL

Explêndido. Ele de fato consegue fazer um retorno ao aqui e agora e se expressar de uma maneira que rasga com as redes de aprisionamento dos discursos numa ladainha sistemática de bateção de idéias. Essas histórias, piadas, metáforas, principalmente quando ele fala da pessoa com que esteve, são os grandes momentos. É o colecionar desse tipo de experiências de troca que farda esse homem. E ele é incrível, com seu jeito esquisito mexendo a blusa o tempo todo. Ele verborragia as palavras e enfrenta as ondinhas que mandam contra ele, agita as águas e mostra que o mar tá revolto demais. Sobre o desejo, é um vazio guloso que se ocupa do que não tem. O momento passa num vap. O pico é lá em cima, lá em cima quanto? Como construir flutuações mais perenes de saciedade? Nossa mente continua vagando de uma coisa pra outra se nos fixamos apenas no momento de obtenção. Há de haver um 'fazer com'. Mesmo pro sexo, como é o durante? Em caso contrário há a ejaculação precoce. Mas como pode existir um durante se o casal não se suporta? como pode existir um durante se a pessoa não suporta a si mesma, se precisa cortar a ponta do rolo de filme continuamente porque "meu deus tá enfadonho, troca!" e pega um cigarro pra fumar na janela sem sair da porra da gaiola de fumaça. Hum... Achei algumas das tirinhas de muito mal gosto, o charginista é fodaço e tal, mas... não gostei. Principalmente daquela sobre Tolerância e Intolerância. Ele picotou o discurso do Zizek e mandou uma frase parabólica que vaza no meio. A melhor das charges foi a do Zizek-deus-Hindu.


sexta-feira, 4 de março de 2016