segunda-feira, 27 de julho de 2015
sexta-feira, 24 de julho de 2015
Crônica
da cidade de Havana
Os pais tinham fugido
para o Norte. Naquele tempo, a revolucao e ele eram recem-nascidos. Um
quarto de seculo depois, Nelson Valdes viajou de Los Angeles a Havana, para
conhecer seu pais.
A cada meio-dia, Nelson
tomava o onibus, a guagua 68, na porta do
hotel, e ia ler livros
sobre Cuba. Lendo passava as tardes na biblioteca Jose Marti, ate que a noite caia.
Naquele meio-dia, a
guagua 68 deu uma violenta freada num
cruzamento. Houve gritos de
protesto, pela tremenda sacudida, ate que os passageiros viram o
motivo daquilo tudo: uma mulher prodigiosa, que tinha atravessado a rua.
— Me desculpem,
cavalheiros — disse o motorista da guagua 68, e
desceu. Entao todos os
passageiros aplaudiram e lhe desejaram boa sorte.
O motorista caminhou
balancando, sem pressa, e os passageiros viram como ele se aproximava da
saborosa mulher que estava na esquina, encostada no muro, lambendo um
sorvete. Da guagua 68 os passageiros seguiam o ir-e-vir daquela linguinha que
beijava o sorvete enquanto o motorista falava sem resposta, ate que de repente
ela riu, e brindou-lhe um olhar. O motorista ergueu o polegar e todos os
passageiros lhe dedicaram uma intensa ovacao.
Mas quando o chofer
entrou na sorveteria, produziu-se uma certa
inquietacao generalizada.
E quando depois de um instante saiu com um sorvete em cada mao, espalhou-se o
panico nas massas.
Tocaram a buzina. Alguem
grudou-se na buzina com alma e vida, e tocou a buzina como alarme de
roubos ou sirena de incendios; mas o motorista, surdo, continuava grudado na
perigosa mulher.
Entao avancou, la dos
fundos da guagua 68, uma mulher que parecia uma bala de canhao e
tinha cara de mandona. Sem dizer uma palavra, sentou-se no assento do chofer e
ligou o motor. A guagua 68 continuou sua rota, parando nos pontos habituais,
ate que a mulher chegou no seu proprio ponto e desceu. Outro passageiro ocupou
seu lugar, durante um bom trecho, de ponto em ponto, e depois outro, e outro, e
assim a guagua 68 continuou ate o fim. Nelson Valdes foi o ultimo a descer. Tinha esquecido a
biblioteca.
- Eduardo Galeano
terça-feira, 21 de julho de 2015
como
seta, como flecha
uma
espada voadora
ou
vento levando folhas pra brincar
mas
um chafariz secreto
uma
fonte subterrânea
uma infiltração
vem
em chuva de inverno...
um
dia que começa numa tarde de ventania, com mais cama que devia... e subsequente
saudade de sonhar... e subsequente destino incerto, ainda que já disparado em
seta ao alvo da alma... conturbada pelos sonhos profusos... que fazer com
tantos mistérios sobrepostos?
na
marinha, há aula de dar nós em corda, mas nunca ouvi de quem ensinasse a desenbolar
as tramas... É tarefa de intuição e paciência... tentativa e erro.. contínuo
recomeço até que se afastem as nuvens do caos... Mas e se o sono chega antes? e
se o dia não é tão longo? e se a névoa se acumula... que mais podem os remetentes
senão aguardar? E a gente, o que pode senão aguardar?
Detesto aguardar. Me dá as facas (de letras) que
eu corto os rios (de sentido). Boto pra fora o escrutínio e chamo os ventos destemidos
pra dispersar. Já logo é noite e a dança pede fogo.
segunda-feira, 6 de julho de 2015
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