A sociedade capitalista transforma cada um num explorador em potencial de seu semelhante para dele obter um lucro de um sobre-trabalho não contabilizado – o que produz a dita “lei de Gérson”, querer obter vantagem em tudo.
Obter vantagem para quê? Para consumir mais, mais objetos produzidos pelo capitalismo científico-tecnológico. Nesse ciclo, o lugar da mais-valia coincide com o dos objetos de gozo – gozo prometido e não alcançável por estrutura. “A mais-valia”, diz Lacan, “é a causa de desejo da qual uma economia faz seu princípio”.
A ciência no discurso capitalista é a produtora dos objetos de consumo, que operam como causa de desejo. O saber científico nesse discurso é capitalizado para fabricar os objetos que possam representar os objetos pulsionais.
O Discurso do Capitalista fabrica um sujeito animado pelo desejo capitalista – desejo que o leva a produzir, ou seja, materializar o significante-mestre desse discurso: o dinheiro, que em seu caráter virtual se chama capital.
Esse sujeito como falta-a-ser é o sujeito como falta-a-ser-rico; a falta de gozo se inscreve como a falta-a-ter-dinheiro.
O Discurso do Capitalista difere do Discurso do Mestre/senhor que estabelece uma laço social entre aquele que manda e aquele que trabalha, como aparece em Hegel na constituição da consciência de si na dialética do senhor e do escravo. Neste há uma articulação entre o desejo de um com o desejo do outro, entre a vida e a morte, entre o trabalho e a casa, entre o objeto e o gozo. Nessa dialética, o saber transformador que é o trabalho está do lado escravo. No Discurso do Capitalista não há mais vínculo entre o senhor moderno, o capitalista, e o proletário. A figura do capitalista de hoje tende a desaparecer e no lugar dominante temos a figura impessoal do capital globalizado. O Senhor Absoluto moderno, que vem no lugar hegeliano da Morte, é o Capital em relação ao qual, vaticina Lacan, somos todos proletários.