domingo, 8 de setembro de 2013



Para um pouco,
só para e pensa.
Elimina o que entra
e se permita sair.

Do passado,
que se refaz em contrastes a partir do afeto.
Do futuro,
que se faz em rascunhos a partir do desejo.

E nesse ensejo, atenue a si mesmo,
Sem antes ou depois.
Resplandece a eternidade.

19/07/13

sexta-feira, 30 de agosto de 2013



Eu tinha um quebra-cabeças. Mas eram muitas peças. Tantas que eu mal sabia por onde começar. Dai joguei tudo pro alto e chamei pra verem. O que cada um me disse eu ouvi com atenção. E adorei quando mencionaram ter gostado de alguma parte em específico. Mesmo que não estivesse pronto. Mesmo que não fizesse muito sentido. E fosse apenas um mosaico multicolorido. Cada um via uma coisa naquelas peças jogadas. e ao tentar explicar revelava um pouco de si. Da simpática à sugestão, surgia uma parceria. E era justamente nesse vão que eu me preenchia. Talvez não fossem peças de um quebra-cabeça, mas pedaços de um espelho...  pelo qual nos víamos, um reflexo composto em cada caco. Se visto ao só, indecifrável. Sem parâmetros. Se visto ao junto, um palpite.

Larguei de completar o quebra-cabeças, perdi de vista seus limites. Sem fronteiras, ando perdido. Sendo tanto quanto o infinito.  (under construction) Mas a brincadeira  mais me diverte. Talvez seja um jogo de sugerir. De arriscar e ver se encaixa. Se dá margem a criação conjunta. Talvez seja um jogo de rir junto..

Talvez seja só pelo colorido dagente tentando se encontrar. Sorrindo ao nos sabermos perdidos, mas não perdidos dos sorrisos que nos unem na cumplicidade do olhar.

segunda-feira, 29 de julho de 2013



A sociedade capitalista transforma cada um num explorador em potencial de seu semelhante para dele obter um lucro de um sobre-trabalho não contabilizado – o que produz a dita “lei de Gérson”, querer obter vantagem em tudo.

Obter vantagem para quê? Para consumir mais, mais objetos produzidos pelo capitalismo científico-tecnológico. Nesse ciclo, o lugar da mais-valia coincide com o dos objetos de gozo – gozo prometido e não alcançável por estrutura. “A mais-valia”, diz Lacan, “é a causa de desejo da qual uma economia faz seu princípio”.

A ciência no discurso capitalista é a produtora dos objetos de consumo, que operam como causa de desejo. O saber científico nesse discurso é capitalizado para fabricar os objetos que possam representar os objetos pulsionais.

O Discurso do Capitalista fabrica um sujeito animado pelo desejo capitalista – desejo que o leva a produzir, ou seja, materializar o significante-mestre desse discurso: o dinheiro, que em seu caráter virtual se chama capital.

Esse sujeito como falta-a-ser é o sujeito como falta-a-ser-rico; a falta de gozo se inscreve como a falta-a-ter-dinheiro.

O Discurso do Capitalista difere do Discurso do Mestre/senhor que estabelece uma laço social entre aquele que manda e aquele que trabalha, como aparece em Hegel na constituição da consciência de si na dialética do senhor e do escravo. Neste há uma articulação entre o desejo de um com o desejo do outro, entre a vida e a morte, entre o trabalho e a casa, entre o objeto e o gozo. Nessa dialética, o saber transformador que é o trabalho está do lado escravo. No Discurso do Capitalista não há mais vínculo entre o senhor moderno, o capitalista, e o proletário. A figura do capitalista de hoje tende a desaparecer e no lugar dominante temos a figura impessoal do capital globalizado. O Senhor Absoluto moderno, que vem no lugar hegeliano da Morte, é o Capital em relação ao qual, vaticina Lacan, somos todos proletários.



Como afirma Jean Baudrillard em Sociedade de Consumo, vivemos hoje em uma espécie de evidência do consumo e da abundância, criada pela multiplicação de objetos, na qual os homens da opulência não se cercam mais de outros homens e sim de objetos (TVs, carros, computadores, celulares).

O discurso capitalista efetivamente não promove o laço social entre os seres humanos: ele propõe ao sujeito a relação com um gadget, um objeto de consumo curto e rápido.

Esse discurso promove um autismo induzido a partir de um empuxo-ao-onanismo (masturbação), estimulando a ilusão de completude não mais com a constituição de um par, e sim com um parceiro conectável e desconectável ao alcance da mão.


quinta-feira, 11 de julho de 2013

É a partir da segunda guerra mundial que isto se generaliza na Europa Ocidental e interfere no modo de vida da classe operária. A burocratização das relações sociais já era uma realidade no início do século.
O estado, as empresas privadas e as instituições civis já manifestavam o predomínio das relações burocráticas e foi isto que proporcionou o “desencantamento do mundo” e a teoria da burocracia de Max Weber. A classe operária também passava a conviver cada vez mais com o burocratismo nas relações sociais. Tanto nas empresas quanto em suas próprias organizações se instauravam relações sociais burocráticas. Era absolutamente visível a burocratização de partidos e sindicatos. Robert Michels foi o primeiro grande critico da burocratização das organizações operárias e avançou ao afirmar que os partidos políticos são “criadores de novas camadas pequeno-burguesas”. A burocracia partidária e os representantes partidários no parlamento e no governo se autonomizam e desligam-se da classe operária, tanto do ponto de vista material quanto do teórico, formando as bases sociais do reformismo (com todas as suas  conseqüências: oportunismo, revisionismo de direita, eleitoralismo, etc.) dos partidos social-democratas, “socialistas” e “comunistas”.
A burocratização dos partidos políticos “ditos” operários é reforçada pela presença no seu interior da burocracia sindical. O marxismo, desde Engels, realizou uma critica radical aos sindicatos, mas alguns dos “auto-intitulados” marxistas não superaram certas ambigüidades. O processo de burocratização dos sindicatos também vem se reforçando cada vez mais com o desenvolvimento capitalista.
Entretanto, a burocratização de partidos e sindicatos não foram suficientes para impedir o desencadeamento da luta operária. A Revolução Russa, a Revolução Húngara, a Revolução Italiana, a Revolução Alemã, entre outras, demonstraram que a luta de classes no inicio do século estava se radicalizando. A democracia representativa já era uma forma de dominação burguesa, mas ainda não tinha a “eficácia política” que possui hoje.
A classe dominante, a partir de então, busca fazer da democracia burguesa o principal ponto de apoio para sua dominação. O sistema parlamentar e o sistema eleitoral são organizados de tal forma que, através da democracia burguesa, não só fique impossibilitado o surgimento de “brechas revolucionárias” como passa a ser uma fonte de corrupção dos movimentos políticos de esquerda.

Psicanálise, Capitalismo e Cotidiano.
Hora, celular, mensagem, biscoito, pinceis, tintas, limpeza, recarga, satisfação, pintura, pessoas, beck, conversa, pintura, muitas ondas, pessoas, conversa, simpatia, por do sol.

quarta-feira, 3 de julho de 2013




Tdam... Tdrum...
Finos dedos dedilhando os órgãos sexuais de um piano de madeira
Sobe e desce, sobe e desce
Acumula e pinga
Num lago de tons
De um metálico espelho. Suave
Que se desdobra colorindo
As margens de prazer
As tulipas silvestres
Um buque de luz
Vários. Todos
Os seres
Desabrochando
As crianças
As peles em pétalas
Os cachos em ouro
Sendo a própria natureza
Sorvendo a própria seiva
Bebendo mel
-
Como os bosques bebem a chuva

terça-feira, 25 de junho de 2013

METEORITO


“Caramba, quantas ladeiras. Ah, vou deixar esses maconheiros pra lá, nem vale a pena ficar correndo tanto numa terça-feira à noite, pra pegar o quê? Maconheiros? Deixa pra lá!”
 Fred tentava manter isso em mente, enquanto corria de carro, fugindo dos PMs.
- Cara, eu tô ouvindo a sirene, puta que pariu! Eles tão vindo atrás mesmo!
- Relaxa, a gente tem um tempo e essas ruas aqui são muito doidas. Respondeu Fred, as mãos começando a deslizar no volante, suaaava. E a direção não era hidráulica. E eles tavam mesmo numas ruas loucas, no alto da Ilha do Governador.
Depois de uma ladeira, uma rua cortava e tinha preferência. Fred e Thiaguinho tiveram que esperar dois carros passarem.  A sirene ficou sensivelmente mais alta.
-Continua reto.
-Vão nos ver subindo. Precisamos virar.
Eles entram na principal e aceleram. O motor antigo rugindo, as peças baratinando, tremendo todas, o carro tava aos pedaços. Só faltava despedaçar.
Os PMs viraram na principal também e vinham vindo.
- Fudeu, fudeu muito.
- Caralho, vamos pro morro!
- Como assim, sério?
- Porra, lá não vão nos pegar. Mete o pé e vira pra Ribeira.
Os PMs correram atrás, mas não deu. O morro se anunciava pela falta de iluminação.
Era um lugar esquisito.
- E não viram a placa! Fred defendia, como que para livrar-se dessa possibilidade.
- Nem que tivessem visto, nós não cometemos nenhuma irregularidade de trânsito, disse Thiago, chapado.
- Lek, nós fugimos deles, correndo! Eles vão nos buscar em casa se tiverem visto a placa. Vão nos rastrear, cara...
Eram duas horas da manhã e eles estavam bem na entrada do morro. Ouviram um berro para que ligassem a luz do carro.
Fred ligou a luz do carro e abaixou o vidro.
- O que vocês tão fazendo aqui? Perguntou um cara armado.
- Estávamos fumando um, a polícia veio atrás de nós...
- E vocês acham que podem ficar criando bagunça aqui? Dando motivo? Vocês tão maluco?
- Olha só, eu juro, eu só quero ir embora.
- Embora é o caralho.
- Se liga, se liga. Olha, eu tava fumando maconha que eu comprei aqui. Esses PMs são uns merdas. Koe, deixa eu ir embora e eu prometo que nunca mais vou fazer isso.
5 segundos de silêncio. Fred derreteu enquanto imaginava uma moeda sendo jogada ao alto. Cara ou coroa. Liberdade ou penitência.
- Vai, mete o pé daqui.